Discurso:
É o meio utilizado pelo narrador para expressar as falas e pensamentos das personagens. Os discursos podem ser:
direto: reprodução exata da fala da personagem;
indireto: o autor, com suas palavras, reproduz o que a personagem disse;
indireto livre: ocorre quando as falas do narrador e da personagem parecem confundir-se. Não há sinais distintos que diferenciam as falas.
No texto narrativo há predominância de verbos que indicam ação.
No estudo de uma narração, entre os elementos que a compõe, temos o narrador, fatos, personagens... Os personagens atuam, participam do fato narrado, e normalmente falam ou dialogam. À fala dos personagens chamamos discurso.
As falas - ou discursos - podem ser estruturadas de duas formas básicas, dependendo de como o narrador as reproduz: o discurso direto e o discurso indireto.
O discurso direto caracteriza-se pela reprodução fiel da fala do personagem, como ocorre no exemplo seguinte:
"O Paranoico só fala no telefone tapando o bocal com um lenço. Para disfarçar a voz.
- Podem estar gravando.
- Mas você ligou para saber a hora certa!
- Nunca se sabe."
(Luis Fernando Veríssimo, "O rei do rock)
Normalmente, as falas de um diálogo são acompanhadas de alguns verbos, como: dizer, perguntar, responder, contestar, retrucar, etc. No texto acima, de L. F. Veríssimo, não se usaram verbos para indicar as falas; já neste exemplo de Lima Barreto, do romance Triste fim de Policarpo Quaresma, percebe-se o emprego de verbos para auxiliar na indicação do personagem que fala e, em certas ocasiões, para caracterizar o clima do diálogo e a intenção do falante:
"- Tens composto muito, Ricardo? Indagou Quaresma.
- Hoje acabei uma modinha.
- Como se chama? Indagou Dona Adelaide.
- Os lábios da Carola.
-Bonito! Já fez a música?
Era ainda a irmã de Quaresma a perguntar. Ricardo levava agora o garfo à boca; deixou-o suspenso entre os lábios e o prato e respondeu com toda a convicção:
- A música, minha senhora, é a primeira cousa que faço."
O discurso indireto ocorre quando o narrador se utiliza da palavras suas para reproduzir a fala de um personagem:
"E ria, de um jeito sombrio e triste; depois pediu-me que não referisse a ninguém o que se passara entre nós; ponderei-lhe que a rigor não se passara nada."
(Machado de Assis - Memórias póstumas de Brás Cubas)
Como se observa, o diálogo é reproduzido em sua totalidade com palavras do próprio narrador, que faz uma síntese de cada fala. Curiosamente, o fragmento apresentado é narrado em primeira pessoa, e uma das falas, reproduzida em discurso indireto, é a do próprio narrador.
Finalmente, há um caso misto de reprodução das falas dos personagens. Leia com atenção o fragmento seguinte:
"Como nas noites precedentes, uma fila de agricultores se formou na porta de uma padaria e o padeiro saiu a informar que não havia pão. Por quê? O padeiro respondeu que não havia farinha. Onde então estava ela? Os agricultores invadiram a padaria e levaram o estoque de roscas e biscoitos, a manteiga e o chocolate.
(Garcia de Paiva - Os agricultores arrancam paralelepípedos)
O fragmento apresentado é muito interessante, pois o autor reproduz uma conversa entre um grupo de agricultores e um padeiro sem se utilizar da estrutura tradicional de diálogos. Nas duas falas do padeiro temos exemplos de discurso indireto: "O padeiro saiu a informar que não havia pão" e "O padeiro respondeu que não havia farinha".
Por outro lado, quando o narrador reproduz a fala dos agricultores, ele o faz literalmente, ou seja, usando a mesma forma com a qual eles se expressaram, o que é uma característica do discurso direto. Quando isso ocorre - algumas expressões do discurso direto intercaladas ao discurso indireto - temos um discurso misto, a que chamamos discurso indireto livre.