Sempre há um conto a mais!
Quando o sol já deitado no horizonte, a fogueira foi acesa, trazendo maior claridade.
Em pouco tempo as luzes do céu pingavam acanhadas pela exuberância da lua, que se exibia também nas águas. A quietude da noite era quebrada pelo riso estimulado com o vinho.
Prudêncio vai até a barraca e busca um vestido. Um vestido comum, desses inteiriços, e pede ao companheiro que o vista.
- Ora, Augusto! Que bobagem! Não tem ninguém aqui, além de nós. Vai! Veste. Só quero ver como é que fica em ti.
O rapaz negava-se em pô-lo, entretanto com a insistência, acabou cedendo. Arranjou o corpo dentro do vestido, que parecia feito sob medida. A princípio, um pouco desajustado com o que representava a veste, mas em pouco tempo já desfilava num bailado descontraído. Exagerava o requebro feminino, satirizando a mulher do amigo.
Depois de muito dançar, foram dormir.
A noite mostrava-se quente e serena, passando lentamente num movimento celestial.
Lá fora, a brasa da fogueira ainda queimava, trazendo claridade suficiente ao interior da barraca. O rapaz dormia um sono meigo, enquanto o outro observava.
Com olhos lúcidos, desenhava o corpo bronzeado pelo fogo. Espreguiçava-se como que estivesse acordando de um sonho prazeroso, ou fingia dormir.
Prudentemente passava a mão sobre o corpo seminu acariciando o companheiro. O peito parecia inflar-se, a cintura contraía-se como que sentido sutis cócegas. Augusto às vezes respirava fundo, como se fosse acordar, mas apenas movia-se.
A boca, ela o tentava. Era uma fruta que precisava ser provada. Levemente pôs seus lábios lá.
Augusto virou-se debruço, num movimento leve e circular, como estivesse puxando um por um dos nervos.
O outro sussurrando-lhe carícias, deita-se sobre ele. Lá fora, alguma coisa apaga o fogo.
- O que foi isso, Prudêncio?
- Psiu! Tem alguma coisa lá fora. Fica aí, que eu vou ver.
Apanhou a lanterna, pôs o calção e saiu. Vasculhou a redondeza. Nada. Não havia coisa alguma por perto. Acendeu novamente o fogo e voltou.
- Tava tendo um sonho tão bom, de repente acordei com aquela escuridão.
- Volta a dormir. Quem sabe consegue recuperar o sonho.
- Agora não sei se vou conseguir dormir. Tenho medo de que haja alguém por aí.
- Não te preocupa, pode dormir que eu fico cuidando. Deita aqui comigo.
O amor entre ambos já vinha de muito tempo, de furtivos namoros. Na família, nenhuma desconfiança. As atitudes sempre demonstraram um perfil masculino no rapaz. O outro, quando entrou na família, trouxe consigo uma forma ousada de viver. A angústia do adolescente de ser admirado era saciada pelas fantasias que Prudêncio proporcionava. Estimulava os desejos, os sonhos que estavam escondidos naquele rapaz de dezesseis anos.
Prudêncio acariciava-o novamente, abraçando por trás.
- Pára, Prudêncio!
- Nós dois queremos a mesma coisa. Por que não?
- Tenho medo que venha alguém.
- Quem?
O rapaz permite que o outro lhe dispa. As carícias apelavam aos desejos do sexo que ambos nutriam. E ali estavam. Os dois e ninguém mais.