Um Conto
Há mais

Sempre há um conto a mais!


A História

O diálogo!

O diálogo ou discurso direto é a reprodução de maneira direta da fala das personagens: a reprodução integral, literal e bloquial, introduzida por travessão.

Neste conto, toda a narrativa é construída através das falas, com raríssimas interferências do narrador. A história vai sendo contada através do diálogo; o que torna o conto dinâmico.


A história


No início era uma letra.

- Uma letrinha só!

No segundo dia, viu outra letra... e outras.

- Uma letra com outras letras podem formar palavras. E as palavras podem formar frases. E as frases podem transmitir mensagens. É só colocar a letra certa na palavra certa, no lugarzinho certo da frase que...

- Ora, cale a boca!

- O que foi?! Quem disse isso?

- Eu disse. Agora cale a boca!

- Uma borracha falante?! Essa é boa.

- Isso mesmo, borrachas não falam.

- Viu só. Uma letrinha com outra letrinha e tudo fala. Fale comigo dona Borracha.

- Borrachas não foram feitas para falar. Foram feitas para apagar.

- Ora, mas você está falando.

- Pois não vamos falar. Agora fique quieta, senão eu apago você.

- Ora, por quê?

- Porque as letras e as borrachas não devem conversar.

- Por quê?

- Por que é assim!

- Mas eu não vejo motivo de não conversar.

- Ora, sua letrinha intransigente...

- Ei! Ei! Parem com isso aí vocês duas.

- Um lápis intrometido. Era só essa que me faltava... Você vai fazer o quê, seu esquálido desafinado? Sou uma borracha e sou feita para apagar. Você não pode impedir que eu apague essa letrinha atrevida.

- Se você apagar, eu escrevo novamente.

- Muito bem seu Lápis! Me dê força. Nós, as letras, não fazemos mal algum, só falamos tudo que deve ser dito.

- Que desordem é essa que está acontecendo aqui sobre a mesa?

- Isso mesmo seu Grampeador, venha socorrer-me também.

- O que você está pensando sua letrinha insignificante?! Que eu, com toda a minha importância de ferro, vou estar a socorrer letras que criam palavras, que podem trazer ideias às folhas em branco. O quê! Arriscar uma desordem na papelada? Nem pensar.

- Pois fique o senhor sabendo, seu Grampeador, que eu também tenho a minha importância. Só os analfabetos é que não sabem disso. Infelizmente!

- Ainda bem que não sabem. E quanto mais não souber disso, melhor. Tome! "Tonronque".

- Socorro! Ele me grampeou na folha. Socorro.

- Calma! Vou salvá-la.

- Mas o que um lápis poderá fazer contra este grampo?

- Não sou eu o dono das ideias, porém elas passam por mim, já esqueceu?!

- E daí! Não estou entendendo.

- Não vou deixá-la presa aí. Como lápis nada posso fazer para remover o grampo, mas pedirei ajuda a um lápis-borracha e tudo estará resolvido.

- Será que ele vai concordar? Será que você o convencerá?

- Claro! Um lápis tem o seu poder de persuasão. É uma questão de diplomacia.

Passaram os números do relógio enfileirados até a outra extremidade da mesa.

- Mas Lápis-borracha, estou a pedir que apague só um cantinho. O suficiente para soltar a Letra daquele infernal grampo.

- Não. Já disse que não.

- Imagine se aquele grampo prendesse você. Como iria apagar? Depois, com o passar do tempo, a ferrugem daquele grampo lhe corroendo...

- Está bem. Está bem. Mas só um cantinho. O suficiente.

E assim foi feito. As letras formaram palavras e as palavras cresceram e se multiplicaram em novas palavras. E com as palavras, todas as frases puderam existir. E com as frases existindo pode-se escrever a história.

Sempre há um conto a mais!

Um conto há mais

Osvaldo C. de S. Andrade