Um Conto
Há mais

Sempre há um conto a mais!


Retrato

Sonoplastia linguística!

Na linguagem cinematográfica, a sonoplastia constitui o elelmento mediador entre o espectador e a personagem, intensificando o clima dramático. No texto narrativo, a descrição incumbe-se fundamentalmente desse papel.


Retrato


Preso em uma moldura torneada e envernizada, fixaram na parede de casa a única lembrança de meu avô. A ilusão que a luz solar provocava na transparente pele vítrica, que separa o mundo real daquele espasmo de vida, espantava-me às vezes vendo-o mover-se. Coisas de minha imaginação! Estava ali parado, imóvel, fixo naquele retrato. Olhando para quem olhasse.

Os olhos procuravam o horizonte, ou talvez somente espiasse a vida que por ele passava. Tudo movia-se, ali não! Era como um espectador a observar o presente sem poder participar dele. Foram castanhos os seus olhos quando eu o conhecia, mas ali estavam negros como a noite sem luar.

Não parecia morto, estava vivo.

Nos seus lábios, poder-se-ia encontrar ainda algumas palavras. Talvez fosse uma saudação como: bom dia ou boa vida! Por quase falar, pensei ouvi-lo um dia agradecendo a Deus a vida que teve.

Na cabeça, um chapéu, que todos nós queríamos usar, aconchegava a sabedoria que eu tive a oportunidade de conhecer.

"Uma pessoa pode ser mais do que simplesmente uma pessoa desde que queira; mas para isso deve ter sensibilidade. Assim, pode viver as emoções de outra pessoa com a mesma facilidade que vivencia as suas". Isto ele sempre falava.

"Aquele bigode mostra a sua tranquilidade". Assim dizia o meu tio.

Sempre que alguém passava por ali não podia deixar de olhar para a parede - para o retrato.

Ali preso em uma moldura, não está prisioneiro, mas protegido para sempre, na parede da casa a lembrança de meu avô.

Sempre há um conto a mais!

Um conto há mais

Osvaldo C. de S. Andrade