Cantiga de Amor - A mais antiga poesia portuguesa - 1189 ou 1198. Escrita por Paay Soarez de Taveiroos.
No mundo non me sei parelha,
Mentre me for, como me vay,
Ca já moiro por vós, e ay
Mia senhor branca e vermelha,
Queredes que vos retraya
Quando vos eu vi en saya!
Mau dia me levantei,
Que vos enton non vi fea!
E mia senhor, des aquel di ay!
Me foi a mi muyn mal,
E vós. filha de don Paay
Moniz, e bem vos semelha
D'aver eu por vós guarvaya,
Pois eu, mia senhor, d'alfaya
Nunca de vós ouve nen ei
Valia d'ua correa...
Desta célebre composição, também conhecida por "Cantiga da Garvaia", oferecemos a seguinte paráfrase:
No mundo não sei de ninguém que se compare a mim (em infelicidade), enquanto a minha vida continuar como vai (indo),
porque morro por vós, e, ai, minha senhora branca e de faces rosadas quereis que vos descreva (retrate: retraia) quando
vos vi em corpo bem feito (en saia: sem manto). Em infeliz dia me levantei, pois vos vi tão bela (isto é: se ao menos
vos tivesse podido ver feia!).
E, minha senhora, desde aquele dia, ai, tudo para mim foi muito mal; mas vós, filha de D. Paio Moniz, parece-vos (vos semelha) muito bem que eu tenha (aver eu) de vós uma garvaia (vestido da corte e de luxo) (por pintar o vosso retrato) quando (como prova de amor) nunca recebi de vós o simples valor de uma correia (e isto é que me importa!).
Tanto as cantigas lírico-amorosas quanto as satíricas foram sendo reunidas, sob forma manuscrita,
em cancioneiros. Dentre esses cancioneiros destacam-se os seguintes:
a.Cancioneiro da Ajuda - é o mais antigo dos cancioneiros, encerrando 310 cantigas, quase todas de Amor. Foi copilado em
fins do século XIII ou princípios do XIV - achado em 1579. Encontra-se na Biblioteca do Palácio da Ajuda, em Lisboa.
b.Cancioneiro da Biblioteca Nacional - o mais completo de todos, com 1647 cantigas de todos os gêneros - também
conhecido como Colocci-Brancuti - encontrado na Itália e adquirido pela Biblioteca Nacional de Lisboa no início do
século XX.
c.Cancioneiro da Vaticana - assim chamado por achar-se na Biblioteca do Vaticano, é composto por 1205 cantigas de
diversos autores (entre eles, D. Dinis e suas 138 cantigas).