A poesia trabalha muito com os significados das palavras. Por isso, quem vai interpretar ou escrever um poema deve usar todos os seus sentidos, pois quanto maior a bagagem semântica, melhor facilidade poética.
A língua tem dois planos: o do conteúdo, que abarca os sentidos que se veiculam, e o da expressão, que abrange os sons que manifestam os conteúdos. O material sonoro dos versos contribui com a significação presente no conteúdo, criando um efeito de sentido.
O ritmo de um poema é dado pela alternância regular de sílabas fortes (tônicas) e fracas (átonas).
A métrica (medida do verso em número de sílabas) destina-se também a criar um ritmo. Outro elemento importante para a constituição do ritmo de um poema é o refrão, que é um conjunto de versos que se repetem ao longo do poema. O refrão tem a função de acentuar determinados pontos significativos do poema.
A rima é a repetição regular de sons, seja no final de versos diferentes, seja no interior do mesmo verso, seja na mesma posição, seja em posições variadas. Ela pode exercer um conjunto de funções: assinalar o fim do verso; estruturar os versos em estrofes e as estrofes em poema; insinuar valores significativos aos termos rimados, ou indicar, por meio de aproximação fônica, que os significados das palavras rimadas se aproximam ou se opõem.
Façamos a análise do texto:
1. Observemos os elementos fônicos presentes no texto. O poema é constituído de uma alternância constante de vogal oral e vogal nasal. Todas as nasais são tônicas; todas as orais são átonas. É preciso observar que a vogal nasal é mais longa que a vogal oral, por causa da ressonância nasal. O poema é constituído basicamente com vogais, que, do ponto de vista acústico, são ondas periódicas, isto é, ondas compostas de movimento regulares.
2. O ritmo de todos os versos, exceto daqueles terminados por um ponto de interrogação, é decorrente do esquema: átona/tônica/átona/tônica. Isso permite imaginar o movimento rítmico do poema. Todos os verso terminam por uma sílaba átona, que contrasta com a sílaba tônica precedente, fazendo diminuir a intensidade da emissão sonora.
3. Todos esses elementos fônicos recriam, no plano da expressão, o movimento ondulatório ininterrupto das ondas do mar.
4. É necessário observar ainda a entonação e o encadeamento dos versos. Os três versos que terminam por ponto de interrogação são dissílabos e têm a estrutura: sílaba átona, sílaba tônica, (sílaba átona). Como a entonação da interrogativa é ascendente, o verso termina numa elevação da voz, enfraquecida ligeiramente pela sílaba átona final.
5. O segundo e o terceiro verso encadeiam-se; os outros não. Tudo isso recria, na expressão, o movimento descontínuo das ondas e a suspensão das águas no alto, antes da arrebentação na praia.
Para compreender bem um texto poético, é importante captar as suas condições de produção e perceber os mecanismos nele utilizados para produzir a significação. O leitor precisa ter sensibilidade para encontrar a chave do texto, ou seja, seu princípio estruturador básico: ora a organização sintática, ora a cobertura figurativa, temática... E o produtor textual, manipular esses elementos.