Tendência que se manifesta nas artes plásticas e, em seguida, na literatura, na música e no teatro no início do século XVII. Inicia-se na Itália e propaga-se pela Espanha, Holanda, Bélgica e França. Na Europa, perdura até meados do século XVIII. Atinge toda a América Latina do início do século XVII até o fim do século XVIII.
Em um período no qual a Igreja Católica tenta recuperar o espaço perdido com a Reforma Protestante e os monarcas concedem-se poderes divinos, a arte barroca busca conciliar a espiritualidade e a emoção da Idade Média com o antropocentrismo e a racionalidade do Renascimento. Sua característica marcante é, portanto, o contraste.
A palavra barroco, originalmente "pérola deformada", exprime de forma pejorativa a ideia de irregularidade. Suas obras são rebuscadas, expressam exuberância e emoções extremas. Durante o período, além da Igreja e dos governantes, a burguesia em ascensão patrocina os artistas. A fase final do barroco é o rococó, estilo que surge na França no século XVIII, durante o reinado de Luís XV. Caracteriza-se pelo excesso de curvas e pela abundância de elementos decorativos, como conchas, laços, flores e folhagens. A temática é inspirada nos hábitos da corte e na mitologia greco-romana.
O nome Barroco é dado ao movimento artístico do final do século XVI até meados do século XVII, época da Contra Reforma. O capitalismo mercantil estava no seu auge, Lutero e Calvino lideravam a Reforma e a Igreja Católica, através do Concílio de Trendo (1545), iniciava a Contra Reforma, um movimento cujo objetivo era o de restaurar a autoridade católica.
Em Portugal, Luís Vaz de Camões morria em 1580 e o rei, D. Sebastião, a quem ele dedicara "Os lusíadas", desaparecia na guerra de Alcácer Quibir, deixando Portugal sob o domínio da Espanha. A Companhia de Jesus, fundada em 1534, agora denominava o ensino e combatia o paganismo e o racionalismo renascentista. O tribunal da Inquisição emitia listas de obas proibidas, entre as quais algumas de Gil Vicente e de Sá de Miranda.
O homem da época buscava uma síntese entre razão e fé, espírito e matéria, corpo e alma.
O Barroco apresentava duas características marcantes em suas obras: o cultismo e o conceptismo. O cultismo consistia no emprego dos excessos, do adorno frasal, das metáforas, antíteses e hipérboles arrojadas, revelando maior preocupação com a forma. Já o conceptismo dizia respeito ao conteúdo, caracterizado pelo uso de expressões sutis, silogismos especiais, com premissa maior, premissa menor e conclusão.
Um dos primeiros países onde a arte barroca floresceu foi a Espanha. Durante os sessenta anos de domínio sobre Portugal, a literatura e a arte portuguesas foram muito influenciadas pelas obras de Cervantes, Gôngora, Quevedo e Lope de Vega. Da Espanha o Barroco chegou à Itália e da Itália espalhou-se pelos demais países peninsulares.
ARTES PLÁSTICAS
As pinturas exibem contrastes de cores e jogos de luz e sombra. A cor é mais valorizada do que a linha. As composições tendem a ser menos centralizadas e a exibir figuras mais dinâmicas do que as renascentistas. Além dos temas bíblicos, históricos e mitológicos, são frequentes as naturezas-mortas, as cenas cotidianas e os retratos da nobreza e da burguesia ascendente. Nos países católicos, vários artistas decoram igrejas, onde é comum as pinturas dos tetos darem a ilusão de abertura para o céu, com técnicas de perspectiva.
Os principais pintores são os italianos Caravaggio e Tintoretto, os espanhóis Velázquez (1599-1660) e El Greco, os belgas Van Dyck (1599-1641) e Frans Hals (1581?-1666), o alemão Rubens (1577-1640) e os holandeses Rembrandt e Vermeer (1632-1675).
Na escultura, as estátuas mostram figuras com rostos contraídos pelo sofrimento ou pelo êxtase e silhuetas rebuscadas que se contorcem em movimento extremo. Há exagero nos relevos, predomínio de linhas curvas, drapeados nas roupas e grande uso do dourado.
LITERATURA
Caracteriza-se pela volta às questões espirituais em oposição ao racionalismo renascentista. Enfoca ideias opostas, como amor e sofrimento, vida e morte, religiosidade e erotismo. São frequentes a sátira social e a humanização do sobrenatural. A maior produção é de poesia.
Os textos poéticos têm estilo trabalhado e linguagem culta. São comuns as figuras de linguagem ligadas à intensidade (hipérbole), dualidade (antítese) e ordem inversa (hipérbato). Em geral, aparecem muitos vocativos, repetições e frases interrogativas. Desenvolvem-se dois estilos: o cultismo, marcado pela forma rebuscada, considerada mais importante do que o conteúdo; e o conceptismo, caracterizado pela exposição de fundamentos da lógica. Entre os principais poetas estão o italiano Giambattista Marino (1569-1625), o inglês John Donne (1572-1631) e os espanhóis Luís de Gôngora, Francisco de Quevedo, São João da Cruz (1542-1591) e Santa Tereza de Ávila.
Na prosa barroca, Miguel de Cervantes faz uma sátira das novelas de cavalaria em Don Quixote de la Mancha. Charles Perrault (1628-1703) adapta contos indo-europeus e estabelece um modelo de contos de fada que será seguido por diversos autores.
MÚSICA
Predomina uma música vocal-instrumental voltada para o texto a ser cantado. É o início da música tonal, da ópera e da fuga - forma na qual uma voz melódica imita a outra com certa defasagem. A polifonia cede lugar à homofonia. Os instrumentos são aperfeiçoados e ganham importância, sendo aceitos nas igrejas, onde antes só se admitia música vocal. Compõem-se missas, oratórios e cantatas religiosas, como Missa em Si Menor, de Johann Sebastian Bach.
Surgem novas formas de composição instrumental, como o concerto, as suítes de danças, as tocatas para instrumentos solistas e a sonata. Os modos medievais são substituídos por dois modos tonais: o maior e o menor. As notas são organizadas em um desses modos, a partir de uma das 12 alturas cromáticas (as sete notas mais suas alterações, sustenido ou bemol): dó menor, dó maior, ré maior etc.
Os principais compositores de música vocal barroca são os italianos Claudio Monteverdi (1567-1643), Alessandro Scarlatti (1660-1725) e Giovanni Pergolesi (1710-1736). Na área instrumental, os expoentes são os italianos Arcangelo Corelli (1653-1713), Antonio Vivaldi e Giuseppe Tartini (1692-1770) e os alemães Georg Friedrich Haendel e Bach.
TEATRO
Reflete o espírito da época: atormentado, tenso e pessimista. A linguagem, sóbria a princípio, torna-se muito rebuscada. O teatro francês, visando um público aristocrático, segue regras rigorosas, como a imitação obrigatória de modelos greco-romanos e o respeito às unidades aristotélicas. Em 1680, a Comédie Française faz do teatro uma atividade oficial, subvencionada pelo Estado. O conflito entre a razão e o sentimento marcam as peças de Pierre Corneille (1606-1684) e Jean Racine (1639-1699). As comédias de Molière mostram tipos que simbolizam as qualidades e os defeitos humanos.
Na Inglaterra destacam-se John Webster (1580-1625), John Ford (1586-1639?) e John Fletcher (1579-1625). O teatro italiano copia modelos franceses. A inauguração em 1637, em Veneza, do primeiro teatro público de ópera introduz revoluções técnicas. A cena reta greco-romana é trocada pelo "palco italiano", com boca de cena arredondada, cortina e luzes na ribalta, telões pintados com efeitos de perspectiva e maquinaria que cria efeitos especiais.
a) contraste: contraposição de temas, de assuntos, de motivos e de elementos expressivos, tais como a oposição entre a vida terrena e a vida eterna, espiritualidade e materialidade;
b) verbalismo: uso exagerado de imagens, de figuras de sintaxe, de metáforas difíceis e de floreios literários;
c) religiosidade: frequência de assuntos envolvendo a problemática religiosa;
d) sensualismo: contraposição à característica anterior; ênfase aos aspectos táteis, visuais, sensitivos, tanto em relação à natureza quanto ao corpo humano;
e) pessimismo: nascido da oposição entre corpo e alma, eu e o mundo, catolicismo e protestantismo, Reforma e Contra Reforma;
f) culto da solidão: o artista é um ser especial, que se isola num mundo particular. Com essa característica, o Barroco está na raiz do futuro movimento romântico;
g) transitoriedade da vida;
h) preocupação constante com a morte: a mesma preocupação que havia na Idade Média;
i) gosto pelo grandioso e pela intensidade dramática;
j) tensão emocional: o homem já não se orienta pela razão, mas por sentimentos intensos e emoções violentas.
Pe. Antônio Vieira
Frei Luís de Souza
Pe. Manuel Bernardes
Sóror Mariana Alcoforado
D. Francisco Manuel de Melo