Texto é tudo aquilo que estabelece comunicação. Existem textos orais - como as conversas, o conto falado, os causos e histórias; textos escritos - como o conto, a fábula, o romance, a receita de bolo, a carta; textos visuais - como as placas, o semáforo, a mímica, a pintura; textos audiovisuais - como o teatro, o filme, o balê.
A leitura de um texto não é a simples decodificação de palavras ou a mera soma de suas partes, mas é dada pelas múltiplas relações que se estabelecem entre os elementos textuais. Num texto o sentido de cada constituinte é definido pela relação que mantém com os demais objetos do todo. Não fosse esse dado, a pequena tira humorística acima admitiria a seguinte leitura: que o governo de FHC (Fernando Henrique Cardoso - presidente de 1994 a 2002) merece nota dez e que anda a dez quilômetros por hora. Qualquer leitor médio de texto diria que interpretá-lo dessa forma significa não tê-lo entendido. Interpretando a charge, percebemos que o significado do quadrinho um se altera consideravelmente e provoca decepção ao confrontá-lo com o segundo. "Dez" passa a ser lido como um indicador de velocidade e não como a nota máxima de uma escala convencional. Com a quebra de expectativa criada pelo quadrinho um, produz-se um efeito de humor, e o texto, no seu todo, passa a ser uma sátira à lentidão com que se tomam as decisões nesse governo.
1. Todo texto tem coerência de sentido. As frases estão relacionadas entre si. O sentido de uma frase depende do sentido das demais com que se relaciona. Isto é o contexto, ou seja, é uma unidade maior em que uma unidade menor está inserida. Assim, a frase (unidade maior) serve de contexto para a palavra; o texto, para a frase, etc. O contexto pode ser explícito, quando é expresso com palavras, ou implícito, quando está embutido na situação em que o texto é produzido.
Observe o texto abaixo, de Carlos Drummond de Andrade:
Faltam elementos de ligação entre as partes no primeiro parágrafo, mas a última frase - Assim em plena floresta de exclamação, vai-se tocando pra frente. - produz a unidade de sentido. O texto deixa de ser um amontoado aleatório de exclamações, adquirindo coerência e, dessa forma, mostrando o caráter estereotipado de nossa linguagem cotidiana.
2. O texto é um todo organizada de sentido; ele pode ser verbal (um conto, por exemplo), visual (um Quadro), verbal e visual (um filme)... Mas, em todos esses casos, será delimitado por dois espaços de nãosentido, dois brancos: um antes de começar o texto e outro depois. É o momento antes de se tomar conhecimento do texto e o momento depois de conhecê-lo. Agora o texto existe.
3. O texto é produzido por um sujeito num dado tempo e num determinado espaço. Esse sujeito, por pertencer a um grupo social num tempo e num espaço, expõe em seus textos as ideias, os anseios, os temores, as expectativas de seu tempo e de seu grupo social. Todo texto tem um caráter histórico, não no sentido de que narra fatos históricos, mas no de que revela os ideais e as concepções de um grupo social numa determinada época. Portanto, é necessário entender as concepções existentes na época e na sociedade em que o texto foi produzido para não correr o risco de compreendê-lo de maneira distorcida. Poderíamos dizer que um texto é, pois, um todo organizado de sentido, delimitado por dois brancos e produzido por um sujeito num dado espaço e num dado tempo.
Duas conclusões podemos tirar dessa noção:
a. uma leitura não pode basear-se em fragmentos isolados de texto, já que o significado das partes é determinado pelo todo em que estão encaixadas;
b. uma leitura, de um lado, não pode levar em conta o que não está no interior do texto e, de outro, deve levar em consideração a relação, assinalada, de uma forma ou de outra, por marcas textuais, que um texto estabelece com outros.