Sempre há um conto a mais!
Mais tarde, enquanto a avó preparava o almoço; a neta recompunha o lar, arrastando e espanando móveis.
- Vó! Será que eles vão passar bem esta noite? Será quente hoje e numa barraca com três pessoas, é tudo ainda mais quente.
- Acho que passarão muito bem; melhor do que nós (Resmunga junto de suas panelas).
A cozinha da casa é somente dela. Ninguém sabe melhor preparar o almoço.
- O Bem disse que na próxima semana, nós vamos viajar; passar uns dias num hotel bem distante. Talvez na Serra.
- Quando é que vocês vão?
- Não sei, mas acredito que no próximo fim-de-semana.
O perfume dos cozidos já se pode sentir.
- Será que eles vêm cedo amanhã e trarão algum peixe?
- Eles quem? (Pergunta desatentamente a avó, arredando do fogo uma panela que fervilhava).
- O Bem e os meninos.
- Eles foram pescar ou acampar?
- Só um acampamento. Mas levaram coisas de pesca.
- Por que não foi junto?
- Achei que não deveria ir.
- Como "achei que não"? É o teu marido e os meninos que foram!
- O Bem falou que iam num lugar onde nunca se foi antes. Não sabe como será. Poderia não ser muito bom para mim - a alergia aos mosquitos. E depois a barraca não é tão grande assim.
- Mas, então, eles poderiam escolher outro. Dormir na barraca não é problema. Nela cabem quatro pessoas muito bem. Pelo Maurício não, ele não é nenhum estranho; é teu primo.
- Eu falei com o Bem sobre outro lugar, mas ele disse que o Augusto insistiu que fosse este. Então, acabei concordando com ele em ir numa outra ocasião. A senhora sabe como é o Augusto. Depois que teima com alguma coisa, ninguém o convence desistir.
- É muito mimado, isso sim! A porta. Tem alguém querendo entrar.
- Deixa que eu vou abrir.
A jovem mulher atravessa o estrito corredor e atende ao visitante.
- Bom dia prima. Hum! O cheirinho está gostoso.
- Tu não foste junto, Maurício?
- Ir aonde?! (Surpreso) Eu vim de casa agora...
- Mas tu não ias com eles para o acampamento?
- Que acampamento? O Augusto não está em casa?
- Não. Ele foi acampar com o Bem e... pensei que tu tivesses ido junto.
- Mas eu não estou sabendo de acampamento nenhum. Ninguém me falou nada.
- O que será que deve ter acontecido?
- Oi, vó!
- Não foi junto, Maurício?!
- O que terá acontecido vó? Eles foram e o Maurício está aqui.
- Não quiseram levar o Maurício.
- Mas o Bem me disse que tinham combinado ir juntos.
- É! Parece que todo mundo combinou comigo, só que eu não estou sabendo de nada. Melhor então é eu ir embora. Queria falar com o Augusto, mas ele não está. Tchau, vó.
Voltam as duas para a cozinha e o primo sai.
- O Maurício ficou aborrecido com isso.
- Ora vó, o Maurício é meio estranho mesmo, de repente vai embora.
- Não... Ele saiu daqui magoado, eu senti isso no olhar dele.
- Agora eu estou preocupada com eles. Será que aconteceu algum acidente no caminho?
- Numa cidade como esta? Se alguma coisa tivesse acontecido, em uma hora já se saberia.
- Mas, então, vai ver que o Maurício não quis ir junto...
- Não se faça de boba! Ele acabou de sair e disse que não sabia de nada.
- Entrou alguém na porta. Eu vou ver. Talvez sejam eles voltando.
- Hum!
A tia que chegou da igreja, entra furiosa pela porta.
- O papai não foi buscá-la na igreja?
- Adivinha aonde ele foi!