Sempre há um conto a mais!
A caminhada entre as árvores e os gravatás estava ficando cansativa com o tempo. A sede era companheira. E o sol cada vez mais pesado. Seria realmente um dia de verão.
Resolveram parar à sombra de um bosque. Augusto soltou o corpo aos pés de uma árvore, cruzando as mãos sobre a cabeça. O outro abre a calça e põe o membro para fora.
Urina, enquanto os olhos sobrevoavam além do mato.
- Olha ali diante! Uma bela plantação de melancias...
Os pensamentos rapidamente se somaram, nem foi preciso palavra alguma, tudo estava dito.
A cerca não se fizera. Somente um declive dividia a mata da plantação. Por aí desceram, como raposas atacando galinheiro. Avançaram contra as frutas.
No campo, quebraram algumas, como criança partindo ovos de páscoa. Comeram por cotovelos: esfregando contra o rosto o miolo vermelho da suculenta e doce melancia.
- Ei, espera aí! (Adverte Augusto, tragando um bocado da carne-água) Será que elas não têm dono?
- E daí! - Responde o outro, raspando os dentes no miolo da fruta. Depois de soprar as sementes, justifica:
- Não tem nenhuma cerca aqui. Talvez, alguém jogou umas sementes fora e elas germinaram.
- Umas sementes?! Olha só a extensão desta plantação.
- Se sabe que isto é uma plantação, sabe que plantação tem dono.
Imperceptivelmente, no outro lado do melancial, fazendo ronda, vem o guardião. Com a espingarda de dois canos dormindo na mão. De um lado o homem, de outro o cão; tão velho quanto o dono, mas ainda vivo.
O cão latiu sem saber porquê. Pois até as moscas não o incomodavam. Assim, o homem foi apresentado de longe.
- Olha! O que é aquilo?
- Aquilo... é o dono que tu queria conhecer. Vamos embora.
Como estavam, saíram: quase que sentados nos calcanhares.
No entanto, a fuga é deflagrada à distância. Sem nenhuma palavra, porque não havia palavra naquele homem, receberam uma descarga da espingarda. E correram. No mesmo instante, o cão se larga em perseguição. Quase sem aguentar com as pernas, atirava-as desajeitadamente de um canto a outro por entre as melancias.
Fugiram juntando as mochilas num só pânico.