Sempre há um conto a mais!
No acampamento, depois de comerem alguma coisa mal cozida - isto porque nenhum deles sabe desta arte - vão pescar.
A água do rio emudecida pelo sol da tarde lambia a margem arenosa em calmo bailado. A respiração de um velho e cansado caíque, que ali estava esquecido de seus tripulantes, sobressaía do silêncio a sovar a corda que o prendia.
Amparados por uma enorme figueira que se deitava sobre o rio, conseguiam, entre distantes minutos, fisgar um ou outro peixinho inexperiente. A cada peixe colhido, um desvairado grito de prazer.
O tempo ia-se esvaziando e os bichos mais escassos. O cansaço de uma desestimulante pescaria estava presente. O rapaz, atirado sobre o braço da árvore, procurava acomodar o corpo, movendo-se de vez enquanto. O outro, recostado numa parte mais alta, observava. O suor era visível.
De repente, Prudêncio lança na terra o instrumento de pesca e o corpo na água, quebrando o sibilar das cigarras no mato.
- Vem Augusto! Tá boa a água. Vamos dar uns mergulhos. Não vamos pegar mais nada.
Mergulhava e vinha a tona, lançando pingos no outro, que temia jogar-se no rio. Porém, após vários apelos, o rapaz lançou-se da árvore. Foi um mergulho rápido. Subiu dizendo que a água estava muito fria.
- É só por instante. (Conformou o outro) Logo o corpo se acostuma com a temperatura.
O caíque velho que dormira numa pseudo-eternidade, foi acordado pela agitação que aquele canto do rio tomou, e pulava preso à margem. Podia-se ouvir as gargalhadas assombrando o silêncio da margem.
- Pára Prudêncio! Me larga; vai me afogar.
- Vamos ver se tu tem força e consegue escapar.
O mais velho prendia o rapaz entre os braços, permitindo-lhe a fuga em alguns momentos. O corpo era assanhado dentro d’água. Tantas foram as batalhas de força. Numa delas, a tanga foi-lhe arrancada.
- Assim não, Prudêncio! Me devolve aqui.
- Não mesmo! Vem buscar.
- Não, Prudêncio. Pára com isso. Pode vir alguém.
- Quem? A gente tá sozinho aqui.
- Por favor, Prudêncio...
- Não! Tem que me pegar; se quiser.
Prudêncio dispara pela praia perseguido por Augusto. Corre de um lado ao outro esquivando-se; até que se deixa apanhar. Caem no raso do rio, travando uma luta familiar.
- Não! Pára, por favor.
- Que mal tem? A gente só está brincando.
- Pára! Não vale mordida...
- Deu bastante peixe, moço?
A voz de um barqueiro, áspera e alta, se fez ouvida de repente.
Desarranjados pela inconveniência do homem, saíram de dentro do rio em direção aos peixes.
- Nós só conseguimos pegar uns pequenos (Diz o rapaz).
- No outro lado da mata a gente pode pegá uns maior. Se qué, eu posso levá lá.
- Não, obrigado! Isto já é suficiente, não é Augusto?!
- Tá certo! Então desculpe eu atrapalhá a brincadeira dos moço.
O homem parte caminhando em passos lerdos, olhando às vezes para trás, enquanto os dois permaneciam parados.
- Vem Augusto! Vamos limpar estes peixes, antes que estraguem.
- Será que o homem nos viu?
- E o que ele tem com isso. Ele nem nos conhece. Depois, que mal tem uma brincadeirinha?