Olhar para o céu à noite e ver uma imensidão de estrelas brilhantes. Isto atrai a curiosidade de conhecer diferentes formas de vida e cultura em outros mundos. Ir até lá e ver pessoalmente o que existe. Este natural impulso coloca em todos a possibilidade de viajar pelo universo em novas conquistas.
Assim como nós, humanos, somos imbuídos de curiosidade, alienígenas poderiam estar também motivados a viagens espaciais. Uma vinda à Terra não seria descartada. Se há vida lá fora, poderia estar à nossa procura.
O Universo vai expandindo como deve e, da mesma forma nosso conhecimento também deve expandir. A nossa existência possibilita outras da mesma forma. Portanto, quem não gostaria de explorar novos mundos? Eles já estão aqui.
Acordei de um sonho interminável. Tinha um pouco de náusea e dor de cabeça. Estava deitado no banco traseiro do carro.
Levantei e caminhei até a beira do mar. Molhei os pés na água gelada. Andei um pouco, mexendo com a espuma que vinha à praia. E aquele mal estar foi passando.
A praia estendia-se num perder de vista; tanto para um lado, quanto para outro.
Estava só. Eu e o carro. Que agora parecia-me mais velho. Meu carro era novo, no entanto estava desbotado e sujo de poeira. Tinha nas janelas uma espécie de cortina bem velha e esfiapada.
- O que aconteceu comigo neste carro?
Largaram-me aqui! No meio do nada.
- E agora? O que faço?
Não importa a resposta que for. O jeito é procurar por socorro. E saí procurando.
Escolhi o monte de areia mais alto e subi lá para observar o que havia por perto. E por sorte, havia umas casinhas de pescador próximas.
Fui até lá na esperança de encontrar alguma forma de tirar o carro do atoleiro. Parece que o vento vai aterrando cada vez mais, com a areia que está por toda parte.
Procurei entre as casas alguma alma viva. Coisa que parecia não haver. O silêncio por ali era assustador. Somente o uivo do vento passava nos ouvidos, provocando um arrepio pelo corpo inteiro.
Porém, a sorte chegou até mim! Em uma delas tinha sinais de movimentação. Cheguei próximo e bati palmas. Ninguém respondeu. Mas eu insisti.
O sujeito que me atendeu mal sabia falar. Mas, era a única casa com gente por ali.
Todo desconfiado, ele me recebeu. Perguntei de longe mesmo se havia mais alguém por ali que pudesse me ajudar com o carro que estava na praia.
- Carro, moço? Aqui? Não. Aqui não tem carro não.
- É o meu carro que está lá na praia.
- Ninguém anda de carro aqui não, moço.
Vi que a nossa comunicação não estava indo muito bem. Resolvi tentar outra coisa.
- O senhor pode me dizer como saio para a cidade.
- Cidade? Não. Aqui só tem areia. Ninguém vem por aqui a muito tempo.
- E como eu vou para a cidade?
- É loucura. É milhão pra aquele lado.
- Então, o que eu posso fazer?
- Cê sabe pescá?
- Pescar?
- É... pegá peixe...
Meu Deus! Pensei eu. Vou ter que ficar com esse cara até conseguir resolver meu problema.
Fui pescar com o sujeito. Era numa lagoa que havia um pouco adiante; saindo pelos fundos das tais casas.
Atravessamos uns juncos que surgiam logo após sair do casario, umas bostas de vaca e chegamos no lago.
Primeiro tinha que enfiar as minhocas no anzol. Eu não sei se sentia nojo daquilo ou se tinha medo delas.
A pescaria iniciou-se com a primeira lançada de linha, que cortou o ar assobiando.
Foi colocar a linha na água e a bicharada começou a fisgar. Muito fácil foi aquela pescaria. Eu não tenho paciência para ficar esperando o peixinho morder a isca, mas aquilo era uma brincadeira. Lançava a linha, já vinha o peixe agarrado nela.
- Agora tem que limpá as buchada!
- E como farei isto?
- Tenho uma faca... que já tirei o buxo de muita gente...
Ele olhou bem sério para mim. Movimentou a faca de um lado a outro da lâmina e disse:
- Tenho outra também. Maior que essa.
Atirou a faca na areia, fincando a ponta dela.
- Limpa os teus peixe!
Achei este sujeito muito estranho, todavia era a única companhia que tinha. Limpei os peixes.
Passamos pelas bostas de vaca, atravessamos os juncos. E fomos para casa.
O fogãozinho de lenha cozinhou a nossa janta.
Não havia iluminação alguma. Somente o fogão, iluminava a casa toda.
Tinha de ir ao banheiro. Mas não havia. Era uma casinha no fundo do pátio com a porta querendo abrir o tempo todo. Ela rangia e batia com o vento.
Por falar em vento… Ele entrava por baixo e assustava quem estivesse lá dentro. O cheiro não incomodava, pois a areia descia para a fossa, tapando tudo que houvesse lá embaixo.
As casas dessa vila eram próximas e sem divisão de território. Contudo, vazias e abandonadas.
Não estava escuro esta noite. Havia uma claridade vinda da lua. E era somente isto que iluminava o meu caminho.
Pensei em não ir até lá. Fazer o que precisava fazer ali mesmo. Entretanto, eu não tinha medo suficiente que pudesse impedir a caminhada. Podia ver no escuro.
Na volta, pude olhar melhor a casa. Era toda de madeira e estava envelhecida. No fundo, duas janelas, as dos quartos. Que provavelmente nunca foram abertas, porque era deste lado que vinha o vento.
Um dos lados tinha um monte de areia que queria invadir a casa. Ele empurrava a parede querendo entrar.
Na frente, uma varanda aberta, por onde se entrava na cozinha. Que era a peça maior da casa.
Dali, podia-se ver o mar e ouvir seu barulho, sovando a areia com suas ondas.
O lugar era tranquilo, mas apartado das almas humanas.
Antes de dormir ele disse:
- Tenho as duas faca. A pequena e a bem grande junto da cama…
E eu respondi:
- Boa noite pra você também!