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Letra F
Face
Estamos em dúvida. Qual é o correto:
“...propor a presente ação em face de
fulano de tal ou face a fulano de tal?
Jonas.
RESPOSTA: use “em face de” ou
“ante” no lugar de “face a”, locução
inexistente em português: “... propor a
presente ação em face de fulano de
tal...". Outro exemplo: "Em face da (ou
ante a) confusão reinante no presídio, a
direção cancelou as visitas”.
Falar e dizer
Falar não equivale a dizer,
afirmar, declarar. Mas a dizer palavras,
expressar-se por meio de palavras.
Exemplo: Ele fala várias línguas./ Falou
com o prefeito. Não falará no assunto./
O apelo da criança fala ao coração.
Já dizer é verbo declarativo. Equivale a
declarar, afirmar. Exemplos:
O governo disse que aumentará o salário
mínimo.
Ninguém diz toda a verdade.
"São Pedro disse:
- Entra, Irene. Você não precisa pedir
licença."
Na dúvida, substitua o falar pelo dizer.
Exemplos:
Ministro fala (diz) na TV que o dólar
vai baixar.
O professor falou (disse) que vai haver
aula.
Quem falou (disse) isso?
O falar não combina com a conjunção
"que". Os dois são inimigos
inconciliáveis. Na presença do "falar
que", não duvide, substitua por "dizer
que" (professora Dad Squarisi).
Falso e Disfarço
“Falso”, falsificação, falsificado,
falsificador são com “s”, pois pertencem
à mesma família de falsidade, que
significa fingimento. “Disfarço” já é do
verbo disfarçar, que se origina de
disfarce (também tem o sentido de
fingi-mento).
Fazer com que, fazer que
No sentido de fingir, só se pode usar
fazer que. Exemplos: Fez que não ouviu a
advertência. / Fez que não viu o amigo.
Como esforçar-se ou empenhar-se por,
causar, obrigar a, existem as duas
formas, fazer com que e fazer que.
O Manual do Estadão prefere fazer que.
Exemplos: Fez que lhe autorizassem a
saída. / O trabalho do advogado fez que
o réu fosse absolvido. / Seu empenho faz
que lhe reconheçam a capacidade.
Fazer erro, fazer falta. Em bom
português, fazer não substitui cometer
ou praticar. Use, pois: cometer erros,
praticar faltas, cometer equívocos,
distrações, enganos.
Fazer mais infinitivo: não flexione o
infinitivo. Exemplos: Pressão sindical
faz políticos recuar (e não recuarem). /
O jogo fez os pais se atrasar. Veja o
uso do infinitivo.
Fazer mortes: para mortes, use causar e
provocar, nunca “fazer”. Exemplos: Avião
cai e causa 15 mortes (e não "faz" 15
mortes ou mortos). / Dia violento
provoca dez mortes no Rio (e não "faz"
dez mortos). Da mesma forma não empregue
fazer para feridos: Temporal "faz" dez
feridos.
Ficar em pé / ficar de pé
As duas expressões são corretas.
Fim de ano ou fim-de-ano?
Sem hífen, pois não há formação de um
terceiro sentido, como em
“pé-de-moleque”. Assim também: fim de
semana, fim de século, fim de milênio,
fim de tarde.
Fim-de-semana ou fim de
semana?
Fim de semana - é o final da semana, bom
ou ruim.
Exemplo: Há muito tempo não vou visitar
minha mãe em fins de semana.
Fim-de-semana - lazer, mordomias,
descanso.
Exemplo: Há muito tempo não tenho
fim-de-semana.
Fim ou final
Segundo Eduardo Martins, Manual de
Redação do Estadão, fim é a palavra
correta para indicar o término ou a
conclusão de alguma coisa: fim de
semana, fim do ano.
Final - deve ser empregada em duas
condições:
a) Para definir a parte final de alguma
coisa ou uma decisão de campeonato.
Exemplo: A final foi emocionante.
b) Como adjetivo: Esta é a palavra final
sobre o caso.
Fitas piratas ou fitas pirata
A manchete de jornal apresentava um
pequeno erro de concordância: DIG
desmonta laboratório de fitas piratas.
O problema é que o Manual do Estadão diz
assim: "Como adjetivo permanece
invariável: liquidação monstro, comícios
monstro". Até aí eu estava com a razão,
e a redação desta Folha, errada.
Mas o verbete pirata afirma:
"Use como adjetivo quando vier depois do
substantivo: edição pirata, fitas
piratas, emissora pirata". Neste ponto,
há incoerência do Manual do Estadão.
O certo é fitas pirata. Pirada é
um substantivo na função de adjetivo,
portanto a regra manda que ele fique
invariável.
É correto os jornais serem vanguardistas
na incorporação de neologismos e
concordâncias mais populares, assim
obrigam os gramáticos a reverem suas
posições, mas recomendar as
concordâncias "comícios monstro" e
"fitas piratas" é incoerência mesmo,
para não dizer cochilo.
Forma/fôrma
Fizemos na seção “Teste da Semana” da
edição de terça-feira passada a seguinte
pergunta: O bolo está na fôrma. / O pão
ganha forma. Fôrma, no sentido de
vasilha, modelo, tem acento circunflexo
para se diferenciar de “forma”?
RESPOSTA: De acordo com a reforma
ortográfica de 1971, quando caíram os
acentos diferenciais, “forma(ó)” ou
“forma(ô)” não haveria acento algum. Mas
o dicionário Aurélio, seguido pelo
Michaelis, se rebelou e registra a
“forma” e “fôrma” com a seguinte
explicação:
“Verbete: fôrma, s. f., e pl.
formas. Parece-nos inaceitável (não só
nesta palavra, mas, talvez, sobretudo
nela) a abolição do acento diferencial,
decorrente da Lei no. 5 765, de
18/12/1971, que estabelece alterações no
sistema ortográfico de 1943.
Considerem-se estes versos de Manuel
Bandeira: "Vai por cinquenta anos / Que
lhes dei a norma: / Reduzi sem danos / A
fôrmas a forma." (Estrela da Vida
Inteira, p. 51.) Seria inteiramente
impossível perceber o sentido da
estrofe se não fora o acento
diferencial. O mesmo se dirá disto de
Martins Fontes: "Pela penugem, primeiro,
/ E, depois, segundo a norma, / Pelo
gosto, pelo cheiro, / Pela fôrma, ou
pela forma, / Certas frutas europeias, /
Como o pêssego - oh! prazer! - / Por
vezes nos dão ideias / Que me acanho de
dizer." (Sol das Almas, p. 40.)
Você, caro leitor, deve escolher: seguir
a recomendação oficial ou aderir à
rebeldia do Aurélio.
Foro - pronúncia
Tenho uma dúvida quanto à
pronúncia da palavra foro. Pesquisando
em alguns dicionários foro (ô) [de foro
com mudança de timbre] - dicionário
Aurélio.
A minha dúvida: as duas palavras têm a
mesma origem (latim foru), mas
pronúncias diferentes, e ainda não fui
convencida desta diferença (Adriana
Fabíola Martins Sousa Jesus).
RESPOSTA: O dicionário de pronúncia do
prof. Sacconi afirma foro com uma só
pronúncia: primeiro "o" fechado,
permanecendo assim também no plural.
Já os dicionários de dificuldades do
Cegalla, do Napoleão Mendes de Almeida
e do Cândido Jucá (filho) diferenciam
fôro de fóro (acento: usado apenas pra
indicar pronúncia), com mudança de
sentido, como faz o Aurélio.
Cabe à internauta você tomar uma posição
diante do assunto. Quando questionada,
explicar o porquê de sua atitude.
Franca
Aproveito a oportunidade para divulgar a
mensagem recebida do internauta Aldo
Bachi:
“Estive na cidade de Franca (ou seria da
Franca) e reparei que por lá tudo é da
Franca e não de Franca:
- Rua Voluntários da Franca
- Clube de Campo da Franca
- Diário da Franca
Eis a dúvida, por que lá tudo é ‘da
Franca’ e não ‘de Franca’".
RESPOSTA: o uso do artigo em Franca tem
razões históricas, é uma tradição, tanto
que os nomes antigos de jornais e
logradouros o mantêm. O nome do lugar
era a Freguesia de Nossa Senhora da
Conceição da Franca e do Rio Pardo,
simplificada para Franca, em homenagem
ao Governador da Capitania, Antônio José
da Franca e Horta.
Atualmente, essa tradição está se
rompendo.
Fronteira, divisa e limite
Qual a diferença semântica entre estas
três palavras? Muita gente faz confusão
com elas. Exemplo: Sacoleiros foram
presos na divisa com o Paraguai. Errado,
entre países se usa fronteira.
Assim, fica correto: Sacoleiros foram
presos na fronteira com o Paraguai.
Usam-se divisa entre estados e
limite entre municípios. Exemplos: O
carro sumiu na divisa de Minas Gerais
com a Bahia. Araçatuba faz limite com
Birigui.
Fulano, beltrano, sicrano
Há à disposição palavras para quando se
quer fazer uma referência vaga ou
genérica a alguém, ou falar de uma
pessoa cujo nome se desconhece. Este
recurso existe em todas as línguas.
No Português, as três mais usadas para essa designação incerta são os habituais fulano, beltrano e sicrano.
1. Fulano vem do árabe fulân ("tal"). Pela evolução do Português, fulano deu fuão, mas a preferência se fixou na forma primitiva, talvez por influência castelhana.
2. Beltrano, diz Luft, veio do nome próprio Beltrão (espanhol: Beltrán; francês: Bertrand), nome extremamente popular na Península Ibérica pelas novelas de cavalaria. A terminação em -ano veio por analogia com fulano.
3. Sicrano, forma de origem misteriosa. Por indicar que o nome verdadeiro não é digno de ser guardado ou mencionado, todas essas denominações carregam um toque depreciativo. Pejorativas são as variantes da linguagem coloquial, como: fulano-dos-anzóis, joão ninguém, zé ninguém, zé dos anzóis.
Furtar
Notícia de jornal tinha como título:
"Ladrões furtam em casa de comerciante".
Uma internauta me pediu que eu
analisasse o emprego de tal verbo nesta
coluna, pois achara esquisita a maneira
como o verbo foi usado.
Luiz Antonio Sacconi diz que furtar é
tomar ou reter os bens de outros sem que
ele o saiba. Roubar é tomá-los à vista
da vítima ou, então, com violência. Na
notícia, o ladrão arrombou a porta da
frente da casa, mas a vítima não estava
na casa, portanto, o emprego não foi tão
impróprio.
Errado seria escrever "Ladrões furtam
casa de comerciante". Nesse caso, daria
o sentido de que o ladrão roubara a casa
toda, com telhado e paredes. Quem
redigiu o título, empregou o verbo
"furtar" intransitivamente. Aí está a
dúvida da internauta, com essa regência
aparecem exemplos nos dicionários:
Furtar no peso, Furtar no jogo, Ele
tinha a mania de furtar. Ficaria melhor
se o título da notícia fosse: "Ladrões
arrombam casa de comerciante".
Futuro como imperativo
Alguns dos dez mandamentos usam o verbo
no futuro do presente para dar uma
ordem. Não seria mais correto usar o
imperativo, já que manda (mandamentos)?
Veja: "Amarás a Deus sobre todas as
coisas/ Não tomarás seu santo nome em
vão/ Guardarás os domingos e feriados/
Honrarás pai e mãe
Não matarás/ Não pecarás contra a
castidade/ Não furtarás ...."
Resposta: "Não furtarás", ao pé da
letra, significa que é proibido furtar
no futuro, apenas no futuro, o que abre
a possibilidade de se entender que o ato
é perfeitamente aceitável no presente.
Mas, na verdade, "não furtarás", que é
futuro, tem o valor de imperativo e,
como tal, indica que é proibido furtar
em qualquer tempo.
Ao analisar um tempo verbal não se
esqueça de considerar que ele pode
indicar seu valor específico ou um valor
paralelo (aspecto verbal), ou seja, um
valor decorrente de seu uso no idioma.