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Letra P

Pagode: templo e música
A palavra foi introduzida nas línguas ocidentais pelos avós portugueses, que trouxeram de suas andanças pelos portos do Oriente. Como templo budista, associa-se ao Japão ou à China.

Alguns etimologistas veem em pagode uma legítima palavra vernácula, derivada de pagão; seria, portanto, um termo depreciativo que os portugueses formaram para denominar todo e qualquer templo não-cristão.

Há etimologistas que vão mais longe: pagode seria a aglutinação de pagan good  (deus pagão, em Inglês).

Apesar de exóticas, tais explicações, segundo o professor Cláudio Moreno, há algo que não deve ser desprezado: a antiga animosidade para com as religiões não-cristãs.

Tanto o pagode quanto a sinagoga, templos budistas e judaicos, adquiriram, já no português do séc. 16, o significado secundário de barulho, confusão, como na frase Ele armou o maior pagode ou festa ruidosa, festança popular como em Fomos a um pagode na casa do Dorinho. Para Houaiss, daí surgiu a designação de samba de partido alto, introduzido no Rio de Janeiro na década de 70. Um longo trajeto da Ásia dos descobrimentos ao morro carioca do final do séc. 20.

País e nação. Há diferenças?
Um país pode ter várias nações - o Brasil, além de ser uma nação, tem no seu território várias nações indígenas. Uma nação pode estar dividida em vários países, como os judeus ou os curdos atualmente. 

Palavras estrangeiras
O Manual de Redação e Estilo, do Estadão, passa as seguintes recomendações:
1) Quando houver a adaptação da palavra estrangeira à nossa ortografia, é preferível usá-la. Assim: xou (em vez show), musse (em vez de mousse), xampu (em vez de shampoo), videopôquer (em vez de videopoker), caratê (em vez de karatê), clube (em vez de club), gangue (em vez de gang), ringue (em vez de ring), surfe (em vez de surf), clipe (em vez de clip), moletom (em vez de moleton).
2) Se a palavra estrangeira já tiver um vocábulo em português, prefira o termo vernáculo. Exemplos: adeus (em vez de ciao), escanteio (em vez de corner), correio eletrônico (em vez de e-mail), desempenho (em vez de perfomance). 

Palíndromo
Palíndromo é verso que se lê da esquerda para a direita ou da direita para esquerda sem alterar o sentido. Parece cobra de duas cabeças. Exemplo bastante conhecido de palíndromo é "Socorram-me, subi no ônibus em Marrocos".

Papai Noel tem plural?
Sim. Nomes próprios possuem plural. Exemplos: A menina escreveu uma carta a Papai Noel./ A rua está repleta de Papais Noéis.

Parênteses - quando empregar?
1. Em elementos (notação, palavra ou frase) interparentéticos, ou seja, intercalados no texto:
a) Outrora, usava-se o lacre preto (!) para fechar envelopes, quando se estava de luta.
b) A firma (= assinatura) deve ser reconhecida em cartório.
c) Insumo (neologismo técnico já aceito por todos) é tudo aquilo que entra na elaboração de um produto, da matéria-prima à embalagem.
Como ocorre com as aspas, o ponto final será posto dentro ou fora dos parênteses, consoante o caso:
a) Fulano de Tal: "Protesto, Senhor Presidente!". (Palmas.)
b) Tudo é possível (quem o nega?).
Quando os termos entre parênteses são independentes na frase, surge a vírgula após o segundo parêntese:
a) No seu encontro em Brasília (antes que os parlamentares votassem a reforma da Previdência), FHC disse a Maluf que...
Antes do primeiro sinal é erro, mas infelizmente nem todo redator ou revisor conhece isso.
2. Em formas combinadas de redação:
a) Queira(m) o(s) senhor(es)...
Se retirados os parênteses, a leitura será normal: "Queiram os senhores... ". São, por conseguinte, incorretas as combinações do tipo "datilógrafo(a)", pois teríamos "datilografoa". Embora Odacir Beltrão diga que tal procedimento esteja errado, o uso do feminino entre parênteses já faz parte do uso diário da língua escrita.
Mesmos literatos exploram o recurso e um dos exemplos mais originais é de Carlos Drummond de Andrade:
a) "...pelas ruas do rio de Janeiro que não é rico, é um oceano inteiro de (a)mo(r)cidade."
b) (M)Olhai os lírios do campo... (Título de poema que homenageou Érico Veríssimo, em 1975, ano de seu falecimento.) 
3. Em numeração de partes de um texto:
- enumeração feita corridamente, isto , sem paragrafar:
...........; (1) ...........; (2)............
- enumeração com novas linhas:
1)...........;
2)...........;
Mas também pode ser assim:
1º 1. l- I-
2º 2. 2- II-
4. Para chamar a atenção a algo já citado, mas não indicado na frase:
a) O outro (o banco pagador) não é responsável pelo engano.
5. Indicando a alcunha, quando interposta:
a) Manuel (Maneca) dos Santos.
6. Na escrita por extenso de números, ou seja, na escrita literal de números:
a) Recebi R$500,00 (quinhentos reais).
Os parênteses servem para "incluir expressões explicativas de palavras ou ideias do texto" ou para sua complementação:
a) Disse Rui Barbosa (Réplica, edição originária do Senado Federal, pág. 430, § 99, n. 330) que, nos monumentos escritos da História ou da Lei, um ponto ou uma vírgula pode encerrar os destinos de um mandamento, de uma instituição ou de uma verdade.
7. Em código, números ou referências telefônicas:
a) Folha da Região ()xx18) 620-7777 (PBX).
8. Em endereços:
16.050-120 Araçatuba (SP) 
l6.050-120 Araçatuba/SP
16.050-120 Araçatuba-SP
Observações
1ª) Há gramáticos que recomendam o uso da vírgula em frases curtas em vez de parêngeses. Os autores novos agem com plena liberdade e adotam, inclusive, a forma combinada, antes empregada unicamente em comunicações comerciais ou em formulários:
... deve(m) aparecer o(s) cabeçalho(s) em itálico. 
2ª) As vírgulas, os travessões e os parênteses são substituíveis uns pelos outros, consoante os casos ou o estilo do redator:
Os títulos ou dizeres, em negrito, ou tipo normal, serão dispostos...
Os títulos ou dizeres, em negrito - tipo normal - serão dispostos...
Os títulos ou dizeres, em negrito (tipo normal) serão dispostos...
* Aviso num parque público.
"Não apanhe (nem esprema, corte, arranque, pise, torça, esmague, quebre, empreste, rolube, dê ou faça qualquer coisa que mutile ou ponha em perigo as) flores." (Seleções do Reader's Digest, out. ded 1975.) 
3ª) Quando ao dirigir-se a alguém com os verbos e pronomes na terceira pessoa, o redator ou escritor desejava esclarecer que determinada referência era relativa a outra pessoa, punha entre parênteses a forma analítica do pronome:
a) Informo-o de que lhe (a ela) dei toda a assistência possível.
b) Posso identificar-me com ele? É certo que o prêmio lhe (me) deu prazer e honra. (Carlos Drummond de Andrade.

Particípio irregular
TER e HAVER - usar com o particípio regular: tenho aceitado. SER e ESTAR - usar com o particípio irregular: é aceito.

Passar
Os verbos "haver" e "fazer" são impessoais quando indicam tempo. E quanto ao "passar"? Quais frases estão certas?
1) Passaram muitos anos.
2) Passaram-se muitos anos.
3) Passou muitos anos.
4) Passou-se muitos anos.
Resposta: 
A frase 1) está certa. O sujeito é muitos anos. Os muitos anos é que passaram. 
A frase 2) também está correta. O sujeito é muitos anos. Se se considerar o “se” como partícula apassivadora. Isto é, passaram-se = foram passados - como também se diz.
A frase 3) está errada porque o verbo se apresenta no singular, mas o sujeito (muitos anos) está no plural.
A frase 4) também a podemos ter como correta, considerando o “se” como  índice de indeterminação do sujeito. O sujeito existe, mas não se sabe qual é, porque se encontra indeterminado pela partícula “se”. Isto é, alguém passou.

Patinar ou patinhar
PATINAR tem três sentidos: produzir pátina (oxidação) em alguma coisa; deslizar, escorregar, rodar em patins; quando as rodas do veículo giram sem sair do lugar. PATINAR se origina de patim + ar e de pátina + ar.
PATINHAR significa agitar a água como fazem os patos; quando as rodas do veículo giram sem sair do lugar (neste sentido é anterior ao PATINAR). PATINHAR é formado de patinha (diminutivo de pata) + ar.
Conclusão: PATINAR é uma variante de PATINHAR. Assim também: caimbra/cãibra; sapê/sapé; corruptela/corrutela; cotidiano/quotidiano.

Pedir para / Pedir para que
A construção pedir para deve ser usada somente no sentido de "pedir permissão, licença ou autorização": O Deputado pediu ao Presidente para se retirar da reunião, pois tinha um compromisso (= pediu licença para se retirar); O Deputado pediu para falar em primeiro lugar, pois tinha que sair mais cedo (= pediu autorização para falar).

Empregado com o sentido de solicitar a alguém que faça algo, o verbo pedir não deve ser acompanhado de para ou para que, mas sim de que: O Presidente pede aos deputados que votem (não: O Presidente pede aos deputados *para que votem, ou *para votarem); O Governo pede que o Congresso aprove as reformas (não: O Governo *pede para o Congresso aprovar). Esta última construção é encontrada em autores consagrados, mas, conforme indica Cegalla, "como se trata de um caso controvertido, recomendamos que, pelo menos na linguagem culta formal, se siga, acerca do verbo pedir, a doutrina tradicional, podendo-se usar as construções incriminadas na comunicação familiar do dia-a-dia."

isso vale para outros verbos em construção análoga, como determinar, recomendar, solicitar: O Diretor determinou que os funcionários entrem pelo Anexo I; Recomenda-se que os funcionários ponham o crachá em lugar visível; O Secretário solicitou que os funcionários deem preferência ao estacionamento 2.

Pego ou pegado
Gostaria de saber quando se usa "pego" ou "pegado"? (Salézio Mendes, Criciúma-SC)
RESPOSTA: pego e pegado – particípios do verbo pegar. “Pego” – forma irregular; “pegado”, irregular. Pegado - depois dos verbos auxiliares “ser” e “estar”. Pego - depois dos verbos auxiliares “ter” e “haver”. Há uma tendência para se usar apenas “pego”, predominando, portanto, o particípio irregular.

Peixe-boi – peixe-mulher
É tão grande a variedade de peixes, que a imaginação popular criou uma enorme quantidade de nomes compostos com a palavra peixe. É claro que tais designações se baseiam na semelhança que as pessoas veem entre determinado peixe e tal animal ou coisa. Assim é que temos, só para exemplificar, peixe-espada, peixe-lua, peixe-cachorro, peixe-cavalo, peixe-charuto, peixe-frade, peixe-morcego... Não é de estranhar, pois, que haja um peixe-boi. O estranho é que se dê, como feminino de peixe-boi, peixe-mulher. Mas é isso mesmo que encontramos no Aurélio e no Houaiss. Caldas Aulete também registra peixe-mulher, dizendo tratar-se da fêmea do peixe-boi na linguagem dos pescadores brasileiros e angolanos. Eles devem ter lá suas razões. Eu não sei explicar... (explicação do mestre Odilon Soares Leme).

Pequim ou Beijing?
Agosto, mês de olimpíada na China: Pequim. Como no logotipo do evento consta Beijing, muita gente se pergunta: sempre pronunciamos erroneamente o nome da capital chinesa?
Os chineses da capital vivem em Pequim. Nossos antepassados lusitanos entraram na China no século 16, por isso herdamos deles uma língua que conhece o nome Pequim há 500 anos. Naquele início, havia também algumas divergências quanto à sua pronúncia. Fernão Mendes Pinto, o escritor-viajante, fala, no capítulo 105 da Peregrinação, desta "cidade que nós chamamos Paquim, a quem os seus naturais chamam Pequim".
Portugal manteve intenso intercâmbio com a China, enviando embaixadores, missionários, aventureiros, comerciantes e militares ao império dos "chins", como diziam, acabando por estabelecer uma base em Macau, até recentemente sob domínio ocidental. Por tudo isso, nosso idioma se acostumou a nomes como Pequim, Cantão e Nanquim, além de suas derivações. Falamos da cozinha cantonesa, da tinta nanquim, do cachorro pequinês (aquele peludo cãozinho doméstico de focinho achatado).
O governo da China, pretendendo uniformizar as transliterações que o Ocidente faz de seus nomes, desenvolveu e divulgou o sistema “pinyin”, que regula a transcrição fonética da língua chinesa para o alfabeto romano. É útil e necessária a iniciativa das autoridades chinesas; a adoção desse sistema muda a grafia do presidente Mao (Mao Tse-Tung, Mao Tsetung, agora Mao Zedong) ou de Chiang Kai-shek (Chang Kai-chek, Tchang Kai Chek, parece que agora Jiang Jieshi).

Isso não significa, porém, que vamos abandonar os nomes já enraizados em nosso léxico. Para entender isso, basta comparar o nome tradicional com a nova versão pinyin: Cantão – Guangzhou / Xangai – Shanghai / Pequim – Beijing / Nanquim – Nanjing / Hong-Kong – Xianggang. Não houve uma "troca de nome", como a do Sião para Tailândia, ou de São Petersburgo para Leningrado, e de Leningrado de novo para São Petersburgo - casos em que existe uma pressão natural que nos leva a adotar a nova denominação. Houve apenas uma troca de sistema de transcrição, o que termina sendo pouca coisa além de uma troca na grafia já que a pronúncia é variável nas diferentes regiões da vasta China continental.
É sabido que as leis ortográficas de um país não costumam ter repercussão nas outras línguas. Quando nós oficializamos a grafia Brasil, os países de língua inglesa continuaram a usar Brazil, a forma consagrada durante nosso regime imperial, enquanto a França sempre usou alegremente o seu Brésil. Por isso, mesmo que um bilhão de chineses não concordem, devemos manter o Pequim do Português, da mesma forma que se mantiveram Pékin (francês.), Pechino (italiano.), Pekín (espanhol) e Peking (alemão). Só os jornais de língua inglesa se apressaram em aderir à novidade. Segundo Cláudio Moreno, em nome da globalização, a imprensa brasileira poderia adotar o hábito educativo de incluir, entre parênteses, o nome reformulado: Pequim (Beijing).

Perda / Perca
Perda é substantivo: Houve uma perda irreparável.Perca é verbo: É preciso que você perca dois quilos. Há muita gente usando erroneamente “perca” no lugar de “perda”.

Portfolio ou portfólio?
Gostaria de saber como devo escrever a palavra portfolio, usada para designar uma coleção de trabalho de uma pessoa. No dicionário encontra-se a palavra sem o “i”, mas há pessoas que escrevem assim: portifólio ou portfólio. Estou em dúvida e gostaria de saber sua opinião (Adriana).
RESPOSTA: portfolio - assim, sem acento, é forma inglesa. Há dicionários que aportuguesaram a forma assim: portfólio, apenas acrescentando o acento. Outros optam por porta-fólio. A tendência é usar a forma aportuguesada portfólio.

Posar / Pousar
O verbo posar deriva de pose, enquanto pousar, de pouso: A modelo posou o dia todo; O rapaz posava de bom moço, quando, na verdade, era um bandido; O avião pousou com atraso de duas horas.

Possuir
Os verbos terminados em uir formam o presente do indicativo com a terminação ui, não ue. Assim: ele possui (não possue); ele conclui (não conclue); ele inclui (não inclue); ele atribui (não atribue); ele polui (não polue). Esse erro deriva da confusão com a terminação ue dos verbos em uar no presente do subjuntivo: que ele continue; que ele recue; que ele atue; que ele atenue.

Pra
Redução da preposição para. De uso informal, deve ser evitado na língua escrita formal.

Pego(ê)  ou pego (é)?
“Pégo” ou "pêgo". Ambas as formas são escritas sem acento. Quanto à pronúncia da letra "e", ela é fechada, segundo o Aurélio, pois, quando havia acento diferencial (antes de 1971), o particípio irregular do verbo "pegar" recebia o acento circunflexo: pêgo. Não sei onde o Jô Soares arrumou a pronúncia aberta do "e" (pégo), mas isto é uma questão menor, pois se trata de regionalismo. 

Penalizado ou punido?
“Os jogadores foram penalizados pelo Tribunal Esportivo da Federação.” Eles foram punidos. Penalizado não é sinônimo de punido. Penalizado é quem tem pena, dó, compaixão.
Estão corretas frases seguintes: O artista ficou penalizado diante de tanta miséria nas favelas. A lei do colarinho branco pune com prisão.

Professor concorda
Em aditamento ao texto de vocês, se seria correto dizer-se penalizado ou punido, o qual foi editado neste portal, queria acrescentar um comentário, que não elide o acerto do leitor que abordou este assunto. Realmente, penalizado é aquele que sentiu dó, comiseração ou pena de alguém, enquanto que punido é o que sofreu uma puniação ou castigo por algo de errado que haja feito. Ocorre que, hoje em dia, nota-se o uso equivocado do verbo penalizar como se fosse sinônimo de punir. O uso é errado mas explicável: é que o vocábulo pena em português (do latim poena) igualmente é sinônimo de penalidade ou sanção aplicável a quem transgride uma norma legal ou administrativa. Daí o equívoco de considerar-se penalizado o que transgrediu uma norma (no sentido de penalidade). O correto seria usar o neologismo apenar, este sim significando aplicar uma pena (no sentido de punição ou penalidade) como equivalendo ao verbo punir. Penalizado, portanto, refere-se a pena somente no sentido de dó ou comiseração (fiquei penalizado com o fato), enquanto que ao uso de pena como punição dever-se-ia aplicar apenas os verbos punir ou apenar.

Personagem
“Personagem” é palavra masculina ou feminina?
O personagem de Antônio Fagundes é viril.
A personagem de Antônio Fagundes é viril.
Em português, quase todas as palavras terminadas em –agem são do gênero feminino: a bagagem, a folhagem, a personagem. Nesse caso, “personagem” se comportaria como um substantivo de gênero sobrecomum, como criança, pessoa, vítima. Embora seja feminina, designa homem e mulher.
Atualmente, o substantivo “personagem” está se tornando comum de dois gêneros. A personagem – quando mulher; o personagem – quando homem. 
Os gramáticos mais rigorosos optariam pela segunda frase, enquanto os mais flexíveis diriam que as duas estão corretas.

Pessoa humana é pleonasmo? 
Há talvez pleonasmo na expressão, mas ele não é descabido. É que há pessoa divina (as três pessoas da Santíssima Trindade), pessoa física, pessoa jurídica…e nem todas são humanas.

Plano ou plaino
Houve um entrevero linguístico no início do mês entre esta Folha e a Câmara Municipal de Araçatuba, pois o vereador Joaquim de Paula (PSDC), diretor de escola aposentado, assumiu a vereança em Araçatuba diante da licença de 30 dias de Nilo Ikeda (PRTB) que foi ao Japão, a convite do governo japonês.
A coluna Periscópio, desta Folha, estranhou que o vereador houvesse falado "cidade plaina" ao se referir a Araçatuba, e colocou o erro entre as "pérolas" linguísticas dos vereadores de Araçatuba.
Sempre digo que, em termos de língua portuguesa, quem tem muita certeza erra mais. A variável "plaina" é pouco usada na região, é tida até como pronúncia caipira, mas não é o que falam os dicionários.
Num lampejo, posso até classificar "plaina" como uma pronúncia arcaica que, atualmente, é mais usada pelo povão, por isso desprestigiada socialmente. Daí a ironia do colunista sobre o vereador Joaquim de Paula, que foi, prontamente, rebatida pela assessoria de imprensa da Câmara Municipal de Araçatuba.
O mesmo processo acontece com a expressão "ambos os dois", considerada como pleonasmo vicioso, mas foi muito usada na linguagem culta e ainda é considerada por gramáticos como expressão enfática.
A coluna Periscópio não estava totalmente errada, pois levou em conta a pronúncia mais usual na região, mas pecou por não consultar o dicionário e por debochar do vereador.
O impasse foi resolvido por pedido de desculpas e houve compreensão das partes.

Pleonasmo vicioso
“Cair lá embaixo” é pleonasmo vicioso? Há várias situações, como: 
Situação 1: "O garoto tropeçou e caiu."
Situação 2: "Por favor ajudem! Vejam aqui! o rapaz caiu lá embaixo!" enquanto o falante aponta para o local onde está o rapaz.
O emprego do pleonasmo é aceitável em situações como as descritas. Sem algum reforço de sentido, seria muito mais difícil o entendimento da mensagem.
“Hemorragia de sangue”, “entrar para dentro”, “sair para fora”, “subir para cima”, “descer para baixo”, “há anos atrás” são pleonasmos intoleráveis.

Pisar a grama/ pisar na grama
Não pise a grama — esta é a construção correta, segundo a gramática tradicional. Mas o uso "Não pise na grama" está consagrado. Para efeitos de concurso e textos formais, use a primeira. 

Plural das palavras terminadas em -ão
O plural de palavras terminadas em -ão varia conforme a forma latina da palavra que lhe deu origem. Isso porque a terminação em português é resultado do desenvolvimento de três terminações latinas, que tiveram o sinal de nasalação da letra (o til) em substituição da letra n: "-ane", "-anu" e "-one", que respectivamente acabaram no plural em -ães, -ãos e -ões. 
Assim, temos os exemplos:
Cão (em latim “cane”) – cães
Pão (em latim "pane") – pães
Mão (em latim "manu") – mãos
Tradição (em latim “traditione”) – tradições 
Em relação à palavra ancião, que tem origem no francês antigo "ancien", o dicionário Aurélio registra três possibilidades para o plural: anciãos, anci-ães e anciões (Prof. Amílcar Caffé)

Plural de tributos e partes do corpo
Ronaldo Costa, consultor de língua portuguesa da Editora Abril, abordou na revista Nova Escola, setembro 2000, a questão do plural inadequado.
Veja alguns casos:
1) “O Último Ano do Resto de Nossas Vidas” – título do filme de Joel Schumacher, 1985;
2) “Eu preciso aceitar que não dá mais pra separar as nossas vidas” – trecho de música de Chitãozinho e Xororó;
3) “Salve o Corinthians/ O campeão dos campeões/ Eternamente/ Dentro dos nossos corações” – hino do Timão.
4) “Ainda não se sabe quem atirou nos rapazes, nem o motivo de suas mortes” – trecho de reportagem da Folha de São Paulo.
Atributos e partes do corpo que são únicos em cada indivíduo, não se pode colocar no plural. A pessoa só tem uma cabeça, uma vida, uma consciência.
Nos três primeiros exemplos citados acima, o pronome possessivo (nosso) devia ficar no singular. No hino do Corinthians, o autor quis rimar “campeões” com “corações”, portanto usou a chamada licença poética.
Na última frase, uma alteração resolveria o problema: “... nem o motivo da morte deles”. Como afirma o professor Ronaldo Barbosa: “Afinal de contas, só se morre uma vez”. 

Pobríssimo ou paupérrimo
Pobríssimo e paupérrimo são superlativos absolutos sintéticos do adjetivo pobre, portanto pode-se utilizar um ou outro. O primeiro é mais popular; o segundo é chamado erudito, pois advém de radical latino.

Põe e Põem
Põe –   3ª pessoa do singular do presente do indicativo (ele/ela – você)
Põem – 3ª pessoa do plural do presente do indicativo (eles/elas –vocês)

Pôr e puser
Quando se usam as formas pôr e puser? Está certa a frase seguinte: Se eu pôr o copo na mesa, não mexa nele.
Resposta: Se o verbo estiver numa oração temporal (introduzida pela conjunção “quando”) ou condicional (introduzida pela conjunção “se”),  “pôr” assume a forma “puser” do futuro do subjuntivo. O mesmo acontece com os verbos derivados: depor, compor, impor, decompor, recompor.
Assim, a forma verbal correta seria “Se eu puser o copo na mesa, não mexa nele”.
Exemplos: 
... quando eu depuser.. (depor)
... se ele compuser... (compor)
... se ele impuser... (impor)
.... quando e decompuser... (decompor)
.... se ele recompuser.... (recompor) 

Por que o porquê é tão difícil?
Nenhuma dificuldade. É só aprender as regrinhas abaixo, que já deram polêmica entre os gramáticos. Hoje há uma certa unanimidade no emprego das regrinhas abaixo, que são também do Pequeno Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (de 1943). Rocha Lima, em sua "Gramática Normativa da Língua Portuguesa", edição de 1972, por exemplo, considera que a grafia do advérbio interrogativo seja "porquê?", só admitindo o porquê separado quando o quê for pronome adjetivo, como na frase "Por que assuntos te interessas no momento?" 
Por que 
*Nas interrogações diretas.
Exemplo: Por que o nomearam?
*Quando der para substituir por "pelo qual".
O ideal por que (pelo qual) lutamos é nobre.
As razões  por que (pelas quais) nos speramoas foram várias.
* Quando vem expressa ou subentendida a palavra "motivo" (interrogação indireta).
Exemplo: Quero saber por que (motivo) elas não apareceram.
Por quê? 
*No caso de interrogações diretas ou indiretas, no fim da oração
Exemplo: Nomearam-no por quê?
Elas não apareceram nei por quê.
*Conclusão: Toda vez que o porquê corresponder a uma pergunta, ele será separado, com ou sem acento.
Porque 
(conjunção)
*Nas explicações (respostas). 
Exemplos: Não fiz porque não quis.
* Para indicar uma causa.
Exemplos: Não fiz porque estava viajando.
* Indicando finalidade.
Exemplo: Ela se esforça porque a admirem.
Porquê
Quando é substantivo, significando motivo ou palavra.
Exemplo: Já sei o porquê disto.
Não apresentou nenhum porquê.
Quê? 
* Referindo-se à letra "q".
Exemplo: Esta palavra se escreve com quê.
* Na exclamação.
Exemplo: Quê! é mentira!
* No final da oração:
Exemplo: Fazer o quê!
* Substantivo, significando jeito, modos.
Exemplo: Você tem uns quês de gênio.

Porcentagem - concordância
Concordância verbal com sujeito-porcentagem 
Eis as recomendações de Josué Machado em seu "Manual da Falta de Estilo":
1- Quando o sujeito-porcentagem aparece desnudo, sem acompanhantes, o verbo concorda com o número:
"Cem por cento roubam o povo."
"Um por cento paga o pato."
"Noventa por cento são safados." 
2- Se o sujeito-porcentagem vem acompanhado de partitivo, o verbo concorda com o partitivo:
"Noventa e nove por cento do STF aplica bem a justiça."
"Um por cento dos juízes aplicam bem a justiça."
3- Se o partitivo vier antes da porcentagem, a concordância se fará com o número:
"Do Congresso, 10% adoram o delicioso cheiro do povão."
"Dos congressitas, 1% merece confiança."
4- Se o verbo vier antes da percentagem, a concordância se fará com o número:
"Leva a breca 1% dos honrados congressitas."
"Levam a breca 70% do Congresso."
5. Se a porcentagem vier qualificada ou determinada, a concordância se fará com o número e também, é claro, com a determinação ou a qualificação:
"Aqueles 97% do Supremo adoram ministrar a justiça justíssima."
"O restante 1% dos congressitas não rouba o povão."

Posto que
Diz Domingos Paschoal Cegalla em seu Dicionário de Dificuldades da Língua Portuguesa, Editora Nova Fronteira, no verbete "Posto que": uma locução equivalente de ainda que, se bem que, embora: Era o primeiro a entrar no jardim, pisava firme, posto que cauteloso." (Carlos Drummond de Andrade). "Posto que estivesse mais ou menos a par da situação, Emília, vendo a irmã em tal estado, começou também a oferecer resistência." (Ciro dos Anjos). "Abismo sem fundo e caldo quente são expressões aceitáveis, posto que redundantes em face da etimologia" (Mário Barreto). Esta locução não tem o sentido de porque, visto que. Não serve, portanto, para exprimir ideia de causa.

Prá e pró
Pró, prá, prós, prás, contração de pra (redução de para) com o o, a, os, as, quer sejam artigos, quer pronomes.
É bom esclarecer que só se dever servir dessa grafia, quando a pessoa quiser representar a pronúncia popular. Ex. Isto é pró (para o) meu pai.
Este dinheiro é prós (para os) que me ajudaram.
Não há nenhum absurdo, porque o acento grave serve para indicar o fenômeno da crase.

Precatório. O que é?
Um leitor me telefonou para saber o sentido da palavra precatório,  tão em voga no momento. Dei-lhe as explicações resultantes de leituras de jornal. Depois fiz uma pesquisa mais sistemática. 
Precatório é uma palavra cognata (da família) de precaver, precaução. Precatórios são ordens emitidas por juízes e tribunais para que municípios, estados e federação paguem indenizações para pessoas físicas e jurídicas.
A Constituição de 5 de outubro de 1988 proibiu estados e municípios de criarem dívidas novas com emissão de títulos. Mas a Carta abriu uma exceção: eles poderiam emitir títulos públicos para pagar precatórios pendentes até aquele dia (5/10/1988). Títulos públicos são papéis vendidos no mercado por governos para arrecadar dinheiro.
A irregularidade da Prefeitura de São Paulo, por exemplo, é que só havia R$24 milhões de precatórios sujeitos ao pagamento, mas o prefeito pediu autorização para o Senado para emitir R$600 milhões. 
Na venda destes títulos no mercado é que houve desonestidade, corretoras e bancos ganharam dinheiro às custas dos cofres públicos com o beneplácito de prefeitos e governadores. 

Prefeitável ou prefeiturável
Nenhuma é encontrada no Aurélio, mas as duas são uma adaptação do termo "presidenciável". Diz o Aurélio que a palavra presidenciável vem de "presidenciar (presidente + ar, seguindo o padrão analógico) + -vel".

Neste caso, o certo (se é que podemos chamar assim, por se tratar de um neologismo) seria "prefeiturável" - "prefeiturar (prefeito + ar, seguindo o padrão analógico) + -vel".

Prefeiturável (dicionário Aulete) ou prefeitável (dicionário Houaiss) têm como sentidos a pessoa que pode se candidatar a prefeito ou tem possibilidade de se eleger para prefeito. Os dicionários Aurélio e Michaelis não apresentam os verbetes. O internauta tem razão, quando analisa o neologismo por analogia a presidenciável. Se presidenciável vem de presidência, então é lógico que a forma mais coerente do neologismo é a apresentada pelo dicionário Caldas Aulete: prefeiturável, em vez de prefeitável. Embora Aulete e Houaiss apresentem prefeiturável e prefeitável respectivamente, não contêm os verbetes presidenciar, prefeiturar e prefeitar.

“Mas qual é a correta?”. As duas formas estão dicionarizadas, inclusive “prefeitável”, que é a forma mais popular. Para o sistema linguístico, a forma mais correta é “prefeiturável”.

Prefeitura ou prefeitura municipal?
O verbete “prefeitura” no dicionário Houaiss afirma que se trata de prédio da administração municipal onde fica o gabinete do prefeito.
Embora as prefeituras de municípios ostentem o adjetivo municipal, há uma tendência no jornalismo a não usar “prefeitura municipal”, pois seria uma redundância, porque prefeitura já quer dizer um órgão da administração de um município. Mas há outro senão: existem as prefeituras das cidades universitárias, portanto há controvérsia.
O manual de redação do jornal O Estado de São Paulo recomenda a seus jornalistas que usem apenas “prefeitura”, sem o adjetivo “municipal”.
Isso mostra que não se pode assumir uma atitude dogmática a respeito, pois se há prefeituras nas cidades universitárias, e elas não são municipais. Usar “prefeitura municipal” não constitui, portanto, pleonasmo vicioso tão gritante como querem alguns.

Premia ou premeia?
Qual forma está correta? Premia  ou premeia (verbo premiar)?
Em se tratando de verbos terminados por “iar”, a norma é apresentarem “ia” na terceira pessoa do singular do presente do indicativo. A resposta certa é “premia”.
Exemplos: variar/ ele varia, negociar/ele negocia.
Existem, porém, cinco verbos terminados por “iar” que apresentam “eia” na terceira pessoa do singular do presente do indicativo:
mediar/ele medeia, ansiar/ele anseia, remediar/ele remedeia, incendiar/ele incendeia, odiar/ele odeia.
É fácil memorizar esses cinco verbos: basta perceber que se juntando as letras iniciais de todos eles, forma-se a palavra MÁRIO. 

Preposições (duas)
Quantas vezes ouvimos locutores esportivos dizerem erroneamente:
Rivaldo chutou a bola por sobre o travessão.
Denílson passou a bola por entre as pernas do zagueiro.
Não há necessidade de usar duas preposições juntas, isso constitui erro. Basta pôr uma preposição:
Rivaldo chutou a bola sobre o travessão.
Denílson passou a bola entre as pernas do zagueiro. 

Presidenta
A forma feminina presidenta, embora tida como neologismo, parece já consagrada por força do uso. É defendida por Evanildo Bechara, Celso Cunha, Cegalla e Rocha Lima, e já está registrada no Vocabulário Oficial. Mas a palavra presidente continua a ser registrada como palavra de dois gêneros, ou seja, pode-se dizer, sem medo de erro, o presidente e a presidente. Portanto, o tratamento “senhora presidenta” é tido como correto, ao lado de “senhora presidente”.

Princípio: "A princípio" e "Em princípio"
A princípio significa inicialmente, no começo; em princípio significa teoricamente, em tese, em termos, de um modo geral. Exemplos:
Toda sociedade é, a princípio, uma verdadeira maravilha. Depois, bem, depois é o fim...
Em princípio, sou favorável ao casamento. 

Professor concorda
Em aditamento ao texto de vocês, se seria correto dizer-se penalizado ou punido, o qual foi editado neste portal, queria acrescentar um comentário, que não elide o acerto do leitor que abordou este assunto. Realmente, penalizado é aquele que sentiu dó, comiseração ou pena de alguém, enquanto que punido é o que sofreu uma puniação ou castigo por algo de errado que haja feito. Ocorre que, hoje em dia, nota-se o uso equivocado do verbo penalizar como se fosse sinônimo de punir. O uso é errado mas explicável: é que o vocábulo pena em português (do latim poena) igualmente é sinônimo de penalidade ou sanção aplicável a quem transgride uma norma legal ou administrativa. Daí o equívoco de considerar-se penalizado o que transgrediu uma norma (no sentido de penalidade). O correto seria usar o neologismo apenar, este sim significando aplicar uma pena (no sentido de punição ou penalidade) como equivalendo ao verbo punir. Penalizado, portanto, refere-se a pena somente no sentido de dó ou comiseração (fiquei penalizado com o fato), enquanto que ao uso de pena como punição dever-se-ia aplicar apenas os verbos punir ou apenar.

Propositalmente ou propositadamente?
O adjetivo proposital é registrado nos dicionários, por isso não se pode chamar de erro o uso do advérbio propositalmente, formado a partir desse adjetivo, conforme o professor Odilon Soares Leme.

O adjetivo propositado tem duas acepções. Pode significar  adequação, oportunidade ou intencionalidade. A expressão observação propositada significa que ela é adequada, vem a propósito, é oportuna. Quando se fala de uma ação ou atitude propositada, o sentido é intencional, portanto criou-se o adjetivo proposital para indicar a ideia de intencionalidade.

Essa discussão tem cem anos, quando houve uma polêmica entre o professor Carneiro Ribeiro e Rui Barbosa. Ambos concordaram em que proposital e propositalmente eram neologismos condenáveis e concordaram em que "as regras da analogia não autorizam a formação de semelhante neologismo".

Por causa disso, até hoje há quem condene o emprego dessas palavras, sugerindo que se dê preferência às formas propositado e propositadamente. Há um purismo exagerado nessa posição.

Pombas ou pombos
O português generaliza pelo masculino. Exemplo: Os homens são mortais. As mulheres estão inclusas. Há certos animais cuja generalização acontece no feminino. Exemplo: Criar galinhas é uma atividade rendosa. Outro exemplo: As pessoas alimentam as pombas na praça. Entre as fêmeas, estão também os machos.

Ensino com Tecnologia - Professor Osvaldo Andrade
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